terça-feira, 19 de maio de 2015

sábado, 28 de dezembro de 2013

Leitora Lena fez um vídeo para 2014

Feliz Ano Novo..
Amo o Grito do bicho!
Meu video para os animais..
Minha página do G+..
Continuem lutando..estamos juntos..
Meu Carinho sempre..Lena


segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Leitor Nelson nos fala de sua esperança que passou a ser nossa também

----- Original Message -----
From: npcj
To: Fala-Bicho
Sent: Monday, December 16, 2013 1:05 AM
Subject: Só um relato

Boa noite Sheila!
Só um relato de um fato que presenciei ontem à noite em um shopping de São Paulo, que pouco frequento, mas tive que lá ir para trocar um presente de amigo secreto.
Neste local existe um PetShop e entrei para ver valores de ração, mas para meu desagrado, lá existiam, para variar, vários filhotes de cães, de gatos, todos cansados e provavelmente com fome. Também tinham aquarios com peixes coloridos e aves exóticas.
Mas o que me chamou a atenção foi o comentário de uma menininha, de não mais que 11 anos, que com os olhos marejados de lágrimas dizia, na sua infantilidade e bom coração, para a mãe: " Mãe....vamos comprar esta arara para soltar lá na Africa" ?
Apesar de revoltado com o quadro que via por conta dos animais, aquela frase da criança me deixou com esperança de um futuro melhor para os animais. Mas é preciso batalhar muito, e você é mestra neste assunto, para conscientizar as pessoas e transformá-las  em seres com a mentalidade desta menina e acabar com este comércio asqueroso de filhotes e outros animais.
E para finalizar, parodiando e mudando um pouco a letra do Gonzaguinha, deixo estas palavras: " Eu fico com a pureza da 'pergunta' das crianças" - (Eterno Aprendiz). No original: Eu fico com a resposta das crianças.
Abs
Nelson

domingo, 15 de dezembro de 2013

Daniela nos conta a história de sua galerinha e deseja Feliz Natal

Querida Daniela, obrigado pelo carinho e retribuo de coração os votos formulados para toda sua família e galerinha!!!! eba!!!!
_________________________

----- Original Message -----
From: DANIELA GUEDES CARDOSO
To: falabicho@falabicho.org.br ; Daniela Guedes
Sent: Sunday, December 15, 2013 10:34 AM
Subject: Bom dia amigos

Sou uma  grande fã de vcs e do trabalho de vcs é quero aproveitar este mês que chega o natal para deixar um pouco de minha historia . Sempre adorei animais e hoje tenho nove cachorros , mas antes de chegar a este time de caes que tenho a aprox um ano atraz eu morava com a minha mãe e tinhamos apenas trez cães a Fiona ( um pastor alemão capa preta e um casal de pincher  o Kiko e a Tica  , como nada na vida é eterno nossa querida tica faleceu em 2012 ja bem velhinha  e no começo deste ano nosso querido Kiko tambem morreu ( foi envenenado por pessoas que ao inves de coração tem pedra)  choramos e sofremos muito mas nada podia se fazer apenas nos assegurar que nada acontece-se com a nossa Fiona a unica que tinha restado na ocasião , porem com o tempo percebemos que fiona estava ficando magra e fraca temendo que o pior viesse a acontecer , e como neste  ano eu havia me mudado para uma outra cidade levei a Fiona para morar comigo e lá ela se recuperou muito bem e tambem se acostumou com o lugar pois tinha muito espaço muita grama  e uma surpresa ná época que me mudei apareceu uma cachorra ainda filhote abandonada lá no bairro sem pensar duas vezes adotei ela a nossa querida Raika . Agora vcs imaginem o  que aconteceu ... As cachorras se deram muito bem , bem até demais que quando entraram no cio por mais que eu tenta-se prender as duas sempre davam uma escapadinha , resultado a Fiona teve 10 filhotes em setembro deste ano e a Raika teve 4 em novembro resultado 16 cachorros - então pensei comigo e agora o que que eu faço.
Não posso ficar com tudo isso de animalzinhos mas não posso abandona-los são vidinhas que esta começando , sendo assim coloquei na adoção os da Fiona , por serem mestiço de pastores consegui doar 7 caes e sobraram 3 que ninguem quiz ficar pq não eram pretos e sim marrom , agora tenho 9 pois os da Raika por ser bem SRD ninguem quer mas eu quero pois para mim não importa a raça , o tipo o preço , importa o amor que tenho por eles e vou ficar com todos pois amigos o que não falta nesta casa é amor para eles meu natal ja ta maravilhoso pois a familia aumentou com meus nove cachorrinhos minhas duas filhas e meu Maridão que me da a maior força 

Feliz Natal amigos e um ano cheio de realizaçoes bjs 
Daniela , Anna Julia, Maria Luiza, Silmar e a tropa ,Fiona , Raika , Doki , Alemão , Pretinha, Meg,Liza, Mel, Tico

bjs a todos


terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Sueli nos envia um vídeo lindo de Boas Festas

Bom dia Sheyla 
Eu e os patudinhos desejamos a você um FELIZ NATAL E ANO NOVO e te enviamos esse vídeo com muito carinho!
Bjsssssssssss J Sueli 
Todos que aparecem no video foram resgatados ..eram vitimas de abandono e maus tratos!)




Retribuo de coração
bjs

terça-feira, 29 de outubro de 2013

O beagle de pobre da Victória..... kakakaka....

----- Original Message ----- 
From: Victória Régia de Oliveira 
To: falabicho@falabicho.org.br 
Sent: Tuesday, October 29, 2013 2:01 AM
Subject: Meu Beagle!


Sheilinha, olha meu amigo Scooby, atualmente famoso beagle de pobre! Kkkk!!!
Ele era de um mendigo de morreu de parada cardíaca e aí então, ele se apaixonou por aquela mulata lá atrás, desceu a rua e veio morar por aqui. É uma cão comunitário, eu os alimento, levo ao veterinário, limpo as casinhas, outro dá banho quando precisa, leva pra vacinar e por aí vai.
Ficou com o apelido de beagle de pobre por causa de sua cor. É um velho desdentado que adora salsichas e logo, quando ele não tiver mais condições de viver numa casa que vive com os portões abertos, terei que assumi-lo definitivamente.
Meu beagle é uma graça, não é?


segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Leitora Ula procura pelo amigo Naor

----- Original Message -----
From: Ula
Sent: Sunday, October 27, 2013 12:16 PM
Subject: Naor Miguel Nehmen


Olá pessoal,
Sou a Ursula Koenig – conhecida como Ula -  e estou à procura do Naor Nehmen, irmão da Nara, que foi meu colega no Ceupa em Porto Alegre na década de 80... soube que ele é ativista numa ONG de Defesa dos Animais.
Sou Protetora independente e atuo no meu pequeno Município de Imigrante/RS, no Vale do Taquari.
Mas, estou à procura de um velho amigo... alguém pode me auxiliar?
Agradeço pela atenção.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Nossa leitora Sílvia nos envia a história de: Tony, o gato foquinha :-)



----- Original Message -----
From: silvia garwood
To: falabicho@falabicho.org.br
Sent: Thursday, October 17, 2013 2:28 PM
Subject: história de superação: gatinho que so se arrastava aprende a andar! Tony!

Ola, sou leitora e admiradora do blog!! :-)
Já falei com vc algumas vezes....sou a Sílvia que era do Balaio de gatos....

Como vc publica muitas vezes historias lindas se superação, achei que talvez gostasse da do meu Toninho!!! :-)

O Tony é um gatinho muito especial. Além de guerreiro, ele é um sobrevivente! Sua mãe gata deu
a luz perto de cachorros grandes e pelo stress que sofreu, acabou comendo os filhotes....sobrando só o Tony! Pouco tempo depois, um dos cachorros matou a mamãe tb.

Com 2 dias de vida e sem ter como mamar, ele veio para o AUG, onde sou voluntaria, ser
cuidado na mamadeira. Com o tempo foram percebendo que o Tony não era um gatinho como os outros, e descobriu-se que ele tem uma condição rara chamada ossos de vidros, onde
ele acaba por quebrar os ossos espontaneamente.

São ossos mais fracos, com dificuldade de absorção de cálcio. Então, com 10 dias de vida, o Tony já tinha 8 fraturas nas 4 patinhas.Ele veio para a minha casa com 2 meses para continuar o tratamento como lar temporário mas, em pouco tempo, já tínhamos nos apaixonado por ele e ele logo se tornou um membro da família.

Não se sabia se ele um dia iria conseguir andar....se uma cirurgia seria possível e se ela resolveria alguma coisa.O que se sabia era que sem a cirurgia, ele não conseguiria nunca se apoiar nas patas e andar, ainda que diferente dos outros.

Começamos então a pesquisar muito sobre o assunto..iniciamos fisioterapia em casa todos os dias, estimulando as patinhas com escova de dente, imobilizando as patinhas da frente retas para acostumar na posição de andar, dando brinquedos que estimulassem os membros e levando ele para a acupuntura. E o que aconteceu depois de 6 meses, surpreendeu ate os veterinários que chegaram a conclusão de que ele pode nem precisasse mais operar!

O Tony é um gatinho muito amado, muito feliz...ensina a todos uma lição todos os dias! Pelo seu jeitinho diferente de andar quando bebe, ganhou o apelido de foquinha dos seus fãs no facebook (https://www.facebook.com/tonycutecat). E desde então, o Tony Foquinha continua a encantar todo mundo.

Fizemos um vídeo lindo com toda sua historia!! Esperamos que vc goste!!!
http://www.youtube.com/watch?v=8kRCoxPDtIw

um beijo!
Silvia

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O Oitavo Ser - Conto da leitora Liana Zecca

http://www.dessinsgratuits.com/index.php?codigo=9668

O oitavo ser

− Querido, venha, venha logo, já estão nascendo.
Rodolfo se levantou, praguejando por ter sido tirado da cama àquela hora da madrugada. Se não amasse tanto sua mulher, teria atirado-a do quarto andar do edifício que viviam, sem dó nem piedade.
 Ao chegar à lavanderia, só reparou que a porca da cachorra tão querida e amada por sua esposa tinha feito a maior sujeira para dar à luz àquelas horrendas criaturazinhas de quatro patas.
− Veja, meu amor, são sete até agora. Será que vem mais um? − Marina fala, sem esconder sua empolgação.
− Espero que não − diz ele, ainda com expressão enojada ao presenciar a cadela rasgando a bolsa que envolvia o sétimo filhote e a engolindo. Quase tem que sair correndo dali para vomitar no banheiro.
Mas sabia que se o fizesse, sua esposa jamais o perdoaria e seu casamento iria por água abaixo. Continua ali, tendo que disfarçar seu mal-estar.
− São lindos, querida, mas acho que ela já terminou. Pelo menos, me parece tranquila.
− Ela está agindo estranho − fala sua esposa. − Parece que ainda espera por mais algum. Veja como está cansada e deitada; vou colocar os filhotes para mamar. Assim, talvez ela tenha mais contrações e acabe expelindo o que a incomoda.
Ele acompanha com o olhar sua esposa Marina posicionar aquelas coisas ainda melequentas e de olhos fechados em cada teta da cadela. Como morcegos, passam a sugar com força o leite da pobre mãe, que, estendida, respira de maneira intercalada.
Alça as sobrancelhas quando a vê respirar cada vez mais rápido; nota com precisão que as contrações expelem um novo ser. Contrações essas que parecem vir como ondas do mar, de cima para baixo, até que ouve um esguichar. Próximo à anca da cadela, algo minúsculo sai de dentro dela; vira o rosto e pensa que não conseguirá controlar mais a ânsia que se apossou de seu interior.
“Meu Deus, se parto humano for igual a isso, eu nem quero estar presente”, pensa.
− Veja, querido, ela está agitada com o último filhote. Tem  alguma coisa errada... − sua esposa diz, toda preocupada com aqueles monstrengos melequentos.
Respira fundo e observa a cadela − que sua esposa chama carinhosamente de Pipoca − abandonar os filhotes que mamam, para auxiliar aquele, expelido por último.
Ela o lambe com ferocidade, tira todo o invólucro que o recobre e continua lambendo-o, como se o massageasse. Escuta-se, por fim, um choro, se é que se pode chamar de choro o som horroroso emitido por aquela coisa ali embaixo.
Agacha-se para olhar melhor aquela coisa molhada;  percebe que algo não está bem.
Observa atentamente aquele último pequeno, e os outros, até que nota a diferença. “Este último não tem quatro patas, e, sim, três, meu Deus”, pensa. “Só me faltava essa: um aleijado na família.”
− Oh! Pobrezinho − são as palavras de sua esposa. − Querido, temos um deficiente na família. − Ela sorri, como se tudo aquilo fosse tão normal.
Se por sua cabeça se passava que já seria difícil se livrar de sete, quanto mais dessa aberração, nascida por último. O oitavo ser, que gostaria de colocar em uma sacola e jogar ao mar para servir de comida aos peixes. Mas, ao invés de dizer aquilo que realmente pensava, suspira profundamente e diz:
− Bom, acho que, agora, tudo terminou e estão bem. Vamos para a cama porque amanhã tenho que trabalhar cedo.
− Claro, meu querido, agora ela está bem.
“Sim”, pensou ele. “Na companhia de oito quatro patas detestáveis”. Não bastasse a ele ter que suportar uma, mas oito era pedir demais. E pior: se todos tivessem quatro patas, até que tudo bem, mas um era perneta − somente três patas o desgraçado tinha.
E aquele último presente − uma aberração − deveria ser jogado na lixeira naquele mesmo instante, mas estava cansado demais e com muito sono. Conversaria com sua esposa na manhã seguinte: os sete melequentos até poderia suportar, mas a aberração não; não o quer de jeito nenhum em sua casa.
Na manhã seguinte, assim que acordam e tomam o café, ele cria coragem. Fitando sua querida esposa, diz:
− Assim que desmamar, eu não o quero aqui.
Confusa e sem entender, ela lhe pergunta:
− Quem, meu amor?
−  O oitavo, não o quero aqui.
− Mas, por quê? Ele é tão lindo como os outros.
− Não, não é. É uma aberração e eu não o quero aqui.
− Rodolfo, ele é apenas um cachorrinho que veio ao mundo incompleto. Se você o olhar novamente hoje, verá que tem a patinha, mas ela não se desenvolveu.
− Não me interessa; é deficiente e não o quero aqui. Assim que desmamar, dê a alguém que aceite isso, ou então jogo fora eu mesmo.
A dor por ouvir aquelas palavras saídas da boca de seu marido dilacera o coração de Marina.
“Será?” Pensa se errou tanto na escolha do homem para ser seu amor e com quem constituir uma família. Essa atitude dele em lidar com um problema tão pequeno a assusta; e se fosse o filho deles que tivesse nascido assim? O que ele faria, como reagiria? Colocaria em um saco de lixo e o atiraria ao mar, ou ao vê-lo no berçário o rejeitaria por toda a vida?
Só porque Deus quis dar a eles algum trabalho a mais? Ainda assim, ela levaria a cruz até onde fosse possível levar, pois acreditava não se tratar de uma cruz e, sim, um ensinamento, uma provação possível de ser superada. E é isso que a leva a dizer ao marido, ao se deitar nessa madrugada, que se decidiu pela criação do oitavo filhote.
Mas a reação de Rodolfo a surpreende, levando-a a refletir se não cometeu um erro em escolhê-lo como seu marido por toda uma vida.
− Você está louca, Marina? Por mim, eu já tinha enfiado ele na lata de lixo ou dado descarga nele, se não fosse o risco de entupir o vaso.
Mesmo em choque com palavras tão cruas, ela tenta argumentar:
− Querido, não podemos fazer isso. Ele, o oitavo, deve ser o mais assistido por nós; apenas porque nasceu com uma deficiência  não quer dizer que não possa ter uma vida normal como os outros. Eu tenho certeza de que ele irá superar logo seu problema.
− Marina, por favor, OK? Sou eu que não o quero aqui mais do que o necessário.
Marina o olha e, neste momento, tem a certeza de que errou de fato na escolha do homem por quem se apaixonou.
− Ok, meu querido, tentarei doá-lo assim que desmamar.
O tempo passou e todos os filhotes, mais crescidos, foram indo  embora, levados por outras pessoas que lhes dariam um lar, comida, idas a pet-shops para tomar banho, ter suas unhas cortadas, seu pelos escovados e, principalmente, ser amados por crianças e adultos.
Passados três meses de vida feliz junto aos seus irmãozinhos, Dakota, como era chamado por sua dona, foi-se vendo cada dia mais solitário. Primeiro um, depois outro, depois outro, até chegar o seu dia, que passou, passou e nada aconteceu.
Olhou para sua mãe, quando seu último irmãozinho foi adotado e lhe perguntou:
− Mamãe, e eu?
-Oh, meu querido, não se preocupe. Logo, logo aparecerá alguém que irá adotá-lo. Se isso não ocorrer − ela lhe dá aquele doce sorriso e completa −, tenho certeza de que meus donos ficarão com você. E eu serei a mãe mais feliz do mundo, por permanecer na companhia do meu lindo e amado filhote.
Mas, infelizmente, isso não chegou a se realizar.
Naquela manhã, depois que sua esposa saiu para o trabalho,  Rodolfo, cansado de esperar que aquele detestável perneta seja comprado ou adotado, resolve dar fim a ele. Pega um grande saco preto de lixo e, com um sorriso de vitória, decreta:
− Vem cá, seu monstrengo! Você vai para um lugar onde deveria ter ido desde o primeiro dia em que nasceu.
Ao som do choro irritante do caõzinho, no entender de Rodolfo, Dakota é colocado dentro do saco de lixo, e este, amarrado nas pontas.
Seu coraçãozinho bate descompassado, sem entender o que está acontecendo. Ouve os latidos desesperados de sua mãe, que se tornam cada vez mais baixos conforme se distanciam de sua casa. Tem falta de ar; chora muito, até que desmaia.
Algumas horas depois, quando acorda, a escuridão ainda é total. Tenta se mexer, avista uma luzinha fraca entrando pela ponta do saco em que se encontra, acompanhada de uma leve brisa. Respira fundo, mas apavorado, permanece ali quietinho.
Passados alguns minutos, sente uma forte pontada bem na sua coxa.
“Meu Deus, o que está acontecendo?” Mal consegue finalizar seu pensamento, quando sente outra pontada, agora em sua barriga.
“Ai!”, grita. Em seguida, ouve vozes.
− Clotilde! Corra, mulher, corra!
− O que foi, Artur.
− Tem alguma coisa viva nesse saco de lixo.
− Tem certeza, meu velho? Será que esses humanos jogaram novamente um semelhante seu no lixo?
− Acho que sim, minha querida, porque vi que o saco se mexeu e ouvi um som, mas não reconheci como sendo de “gente”.
− Oh, pobrezinho, o que vamos fazer? Eles não nos entendem, como vamos avisá-los?
− Vou abrir o saco para ver.
E Artur começa a bicar a ponta do saco, até que o rasga totalmente. Ao abri-lo, vê Dakota que, apavorado, lhe devolve o olhar.
− Ufa! − diz Clotilde.
− Desta vez, é apenas um cãozinho, veja meu velho.
− Hum... − responde Artur, pensativo.
− Agora sabemos por que foi jogado fora; é deficiente, o moleque.
− Nem mesmo por isso eles têm razão.
− Olá, pequeno, como você está? − pergunta Artur.
− Quem são vocês? − Dakota pergunta, apavorado, diante daquelas criaturas enormes, negras e aladas, que nunca soube existir, por ser tão pequenino ainda.
O sorriso simpático de Clotilde e o riso suave de Artur fazem com que Dakota se sinta mais tranquilo.
− Bom, meu pequeno, agora somos os seus salvadores.
− Obrigado, senhor e senhora.
− Que lindo, ele é bem educadinho − fala Clô. − Diga-me, meu filho, você consegue andar?
− Sim, não como meus irmãos andavam, mas eu consigo, querem ver?
− Claro, meu anjo, venha, vamos sair deste lixão. Logo, chega mais um caminhão de lixo para ser despejado aqui e você corre perigo.
Dakota, apesar da sua deficiência, segue dona urubu Clotilde e seu Artur até um local seguro.
− É aqui − diz dona Clotilde.
Dakota olha ao redor e vê montes de entulhos jogados no terreno baldio ao qual foi levado, a mais de um quilômetro de onde se localiza o lixão.
−  Me parece o mesmo lugar de onde saímos − ele diz.
− É verdade, meu filho, mas é um terreno que está à venda. Infelizmente, muitos humanos preferem jogar seu lixo aqui do que guardá-lo para a prefeitura levar ao lugar certo, a fim de ser separado e reciclado.
− O que é reciclar? – pergunta, curioso.
− Ai, ai. Explica para ele, minha querida.
E dona Clotilde tenta explicar a Dakota, exemplificando a finalidade de sua espécie viver aqui na terra.
− Meu pequeno, sabe o que somos e para que servimos, neste mundo?
− Não − responde Dakota, mas demonstrando grande curiosidade.
− Bem, a nossa espécie, apesar de os humanos nos verem com certo asco e mau presságio, se alimenta da carniça de animais mortos. Com isso, representamos, na realidade, um fator de equilíbrio ecológico para a não propagação de doenças a esses mesmos humanos que nos vêm de forma tão errônea. Isso quer dizer que fazemos a limpeza  − reciclamos o lixo, por assim dizer −, retiramos o que é ruim, aproveitado por nós como alimento, e deixamos o bom, a limpeza da terra, entende?
− Puxa, show! − diz Dakota com verdadeiro entusiasmo. − E eu, para que vim a este mundo?
− Você é um lindo cão Labrador; serve para fazer a felicidade das crianças, ou para um trabalho muito sério de guia, ao ajudar as pessoas humanas que não enxergam a se locomover e ter uma vida mais independente e feliz.
Dona Clotilde percebe que suas palavras afetam o pequeno Dakota. Ao olhar em seus olhos, vê que lágrimas lhe escorrem pelo lindo focinho.
− Oh, meu querido, eu disse alguma coisa que te magoou?
− É que eu nasci deficiente; como poderei ajudar um deficiente a se locomover, se eu mesmo sofro com esse problema?
Clotilde olha para Artur, desesperada por sua ajuda. Sabe como se sente o pequeno Dakota e não tem uma resposta para ele.
Seu Artur, para demonstrar confiança, limpa a garganta e tenta convencer Dakota de que se Deus o colocou no mundo assim, com certeza, ele, na realidade, é um vencedor e poderá superar seus desafios, tornando-se um bom cão-guia como outro qualquer.
− Veja bem, meu pequeno: você veio a este mundo com apenas três pernas; foi rejeitado pelo seu dono, que o enfiou em um saco para morrer no lixão e, mesmo assim, Deus nos fez te encontrar  − o que prova que veio ao mundo para viver. Conseguiu ainda nos acompanhar até aqui facilmente. Enquanto precisar da nossa ajuda, a terá, mas é importante aceitar que se tudo isso lhe aconteceu é porque nosso Senhor o quer e acredita em você.
− Quer dizer que, quando eu crescer, poderei servir de ajuda a alguém?
− Claro, como todos nós servimos.
Dakota sorri e, agora, mais tranquilo e seguro, diz sentir-se cansado e com sono. Teve que aprender muitas coisas em tão pouco tempo, mas está feliz: com um sonho a realizar, fará tudo por ele.
⎈  ⎈   ⎈
O tempo passou e Dakota cresceu, tornando-se um lindo Labrador. Um dia, caminhando sem rumo pela cidade, repara que um jovem de bengala tenta atravessar a avenida, onde grandes monstros de lata passam em alta velocidade, sem nenhum respeito às listras brancas pintadas no chão.
Seu Artur lhe havia dito que elas servem para sinalizar a essas grandes latas motorizadas que parem, dando passagem a humanos pedestres, que têm de ir e vir para seu trabalho ou casa.
Aproxima-se do rapaz e se coloca ao seu lado, latindo:
− Au! Au!
Leandro é um jovem que perdeu a visão devido a uma doença rara. Embora não seja pobre, para obter um bom cão-guia, terá de aguardar ainda alguns anos. Treinar cães-guias é uma atividade difícil e demorada, principalmente porque seus treinadores enfrentam dificuldades em acessar vários locais públicos − proibidos que são de entrar com os cães como seus acompanhantes. Assim, estes têm seu treinamento retardado para servirem aos seus futuros donos cegos.
Antes mesmo da cegueira atingi-lo, Leandro sempre amou os animais; era considerado fera na informática, habilidade de que se utilizava para auxiliar instituições de proteção à flora e fauna na denúncia contra tudo o que de ruim acontece em nosso planeta.
−  Oi, você está aí? – diz, tateando abaixo dele até encontrar a pelagem macia de Dakota, posicionado ao seu lado.
Ao senti-la, ele sorri.
− Ei, meu amigo, o que faz aqui? Tem alguém junto a você?
Dakota apenas se limita a latir:
− Au, au!
Leandro, curioso, começa a acariciá-lo. Percebe que tem diante de si um Labrador. Toca-o da cabeça até sua anca; agacha-se, tocando-o e procurando sua pata. Percebe, assim, que ele é um cão deficiente.
− Olá, meu amigo, pelo visto, temos um pequeno defeito: ambos somos deficientes − diz, sorrindo.
Dakota o lambe todo, feliz. Mesmo sem enxergar, Leandro, ciente da alegria do cão, pergunta:
− Você quer me ajudar a atravessar a rua?
A resposta vem em forma de um festivo latido. Leandro, também feliz com a inesperada amizade, segura-se no pelo do pescoço de Dakota, dando sua vida em confiança àquele simpático animal. Ao ver o sinal abrir, Dakota segue em frente em seu passo capenga, mas firme, até chegarem ao outro lado.
Com lágrimas nos olhos, Leandro constata naquele momento que terá, enfim, o seu tão sonhado cão-guia. Dakota, que na língua indígena significa “amigo”, sabe que conquistou aquele humano, que o amará por toda a sua vida e será seu grande amigo.
Sobre suas cabeças, Clotilde e Artur sobrevoam. Dakota ouve deles:
− Nós te dissemos, meu querido: Deus sabe o que faz.
Quanto a Rodolfo, esse ficou só, pois sua amada esposa, assim que chegou em casa e deu pela falta do filhote, entendeu quem estava por trás do seu sumiço. Arrumou suas malas e partiu, levando Pipoca, que, agora, é novamente mãe − dando a Marina muita felicidade.



Entre a cruz e a espada - conto de nossa leitora Liana Zecca


Entre a Cruz e a Espada

Archibaldo sentiu os olhos arderem e as lágrimas, teimosas e inesperadas, embaçarem sua visão, mas ele sabia que não poderia deixar que nada interferisse em sua decisão. Não podia perder a concentração; estava ali é verdade, mas ninguém lhe havia perguntado se era isso que ele queria. Ninguém, nem mesmo seu tratador, o único em quem por algum tempo confiara e acreditara ser seu amigo, seu único amigo – esse o havia traído.
Ainda conseguia sentir o toque de suas mãos sobre sua cabeça alongando-se até o seu nariz; ainda conseguia ouvir o tom carinhoso com que ele lhe falava “Coma, pequeno Archibaldo, quanto mais saudável for, mais justiça a seu glorioso pai fará.”
Seu glorioso pai, Alonmanzor, o único touro a ser indultado por sua bravura, por sua luta em prol de sua espécie e raça, aquele que um dia lhe confessara:
”Bal, meu filho, estou cansado. Se amanhã eu não voltar, me perdoe, mas acredite em mim: eu o amo e sempre o amarei.”
“Pai, do que é que está falando? Você não pode me deixar.”