terça-feira, 24 de novembro de 2009

ELIANE NOS FALA SOBRE ZOOFILOSOFIA

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From: enarducci
To: Fala Bicho
Sent: Tuesday, November 24, 2009 1:50 PM
Subject: Re: [multilistalivre] Zoofilosofia, Novo Tema da Metafísica Ocidental

Zoofilosofia, Novo Tema da Metafísica Ocidental
Escreve: Humberto Mariotti
Em: Setembro de 2009
http://viasantos.com/pense/arquivo/1231.html

1 – META E VISÃO DA ZOOFILOSOFIA

A Zoofilosofia, aliada à Zoopsicologia, está penetrando nas novas dimensões do pensamento metafísico moderno, a ponto de se unir indissoluvelmente à ordem hominal dos valores ontológicos. A Zoofilosofia representa um “pensar filosófico sobre animais” e uma distinção daquilo que já alcançou categoria gnoseológica no pensamento moderno, ou seja, um “pensar filosófico sobre o drama existencial dos animais”.

Como sabemos, o mundo animal foi sempre depreciado pelas culturas humanistas e religiosas do Ocidente, motivo por que não se conseguiu ver o profundo oceano psicológico dos chamados seres irracionais; mas agora, à medida em que o desenvolvimento do homem e da cultura se efetua, a problemática existencial do ser humano conduz à necessidade de encarar a problemática existencial dos animais, porque nas duas espécies o Ser se manifesta com a mesma realidade vivente e existente, cujos graus de desenvolvimento, embora se diferenciem muito entre si, mostram que no essencial são similares e respondem à mesma teologia universal.

A Zoofilosofia é uma expressão espiritual do pensamento metafísico moderno que deveria repercutir intensamente nas escolas idealistas de base palingenésica, especialmente na kardecista, que apresenta princípios e motivações doutrinárias de um zoofilismo transcendente assente nas leis da evolução.

O descuido antigo de tão importante questão filosófica atrasou o desenvolvimento dos valores ontológicos que hoje constituem a visão espiritual e social da Zoofilosofia, consequência do que se denomina “unidade da vida” e que o gênio de Albert Einstein descobriu com o nome de “teoria do campo unitário”.

Com efeito, os animais já não podem ser considerados peças mecânicas e valorizadas de acordo com os velhos cânones do cartesianismo, que negava alma aos irracionais. Agora os conceitos de Humanidade e Animalidade refundiram-se no de Existencialidade. Quer dizer que as diversas manifestações da vida, através das espécies e formas, se concentram no conceito de Existência e de Ser. O homem existe como ser sensível e inteligente. Tem consciência disso e tal fenômeno dá-se igualmente no animal, cujo “conteúdo existencial” é semelhante ao do ser hominal.

A Zoofilosofia mostra-nos que o conceito de Existencialidade abarca as diversas expressões do que existe, pois à luz da metafísica contemporânea; até os reinos mineral e vegetal possuem Ser e Existir que lhes conferem um princípio inteligente submetido a processos de manifestação e desenvolvimento.

Ora, dentro da mais rigorosa lógica, podemos falar na atualidade de um Ser mineral e de um Ser vegetal unidos ao Ser animal e ao Ser Hominal. A Existência não é só uma expressão inteligente que se revela no Ser do homem; na Existência encontra-se o grande e o pequeno, isto é, está tudo o que é e existe na natureza. Para a Zoofilosofia o animal é um Ser com um mundo interno e externo de profundas dimensões psicológicas. O animal é um Ser que existe e, por conseguinte, nos leva a descobrir nele individualidade e personalidade em contínua manifestação. Por isso, assim se proclamou a Declaração Universal dos Direitos do Homem , através da ONU, este mesmo centro mundial devia anunciar os Direitos Universais dos Animais (1) , pois o que deduz acerca dos irracionais deu origem a uma ética de proteção aos mesmos, relativamente ao drama que vivem, em virtude da impiedade humana.

A Zoofilia é um ramo da moral social e difundida por homens eminentes, como foi o dr. Albert Schweitzer e numerosas sociedades, cuja finalidade é proteger os animais. O tema da pessoa animal já é uma realidade metafísica e sociológica que nos demonstra à sociedade o mundo anímico e psíquico dos irracionais. Consequentemente, afirmar que a natureza animal é constituída por reflexos nervosos combinados, como o demonstra a zoologia clássica, é criar uma ameaça niilista para o próprio homem, visto que ele, bioticamente considerado, possui os mesmos elementos fisiológicos do irracional. E se o homem não fosse mais que um circuito de reflexos nervosos, sê-lo-ia também por razão de semelhança orgânica; mas se o Ser humano é uma entidade com projeções transcendentais, sê-lo-á igualmente por analogia teleológica o mesmo Ser animal. Não esqueçamos que no homem se encontra o esquema total da natureza e o que nele está desenhado o está também no plano geral das coisas.

À medida em que a metafísica ocidental vai penetrando nas zonas inexploradas do homem, vai-se também conhecendo o mundo não menos enigmático dos animais. De onde se conclui que a Zoofilosofia está penetrando no trabalho metafísico contemporâneo sobre a base dessa zoopsicologia supranormal tão notavelmente demonstrada pelo gênio analítico de Ernesto Bozzano (ver o seu livro “As Manifestações Metapsíquicas e os Animais”), a quem coube a missão de apontar a veracidade da teoria do ser essencial indestrutível do animal.

O pensamento metafísico de pensadores como Henri Bergson, Hans Driesh e Jacob von Uexül penetrou no próprio seio da evolução e compreendeu que o dogma, segundo o qual “o ser vivo é uma simples máquina”, não exprime a autêntica realidade do Ser, pois demonstraram que as próprias amebas “começaram por criar a sua estrutura vital”, coincidindo assim com a visão metafísica do dr. Gustave Geley ao sustentar a teoria do dinamopsiquismo essencial , como fator determinante da evolução universal.

2 – HUMANIDADE, ANIMALIDADE E EXISTENCIALIDADE

Na filosofia contemporânea tudo se resume ao conceito da Existencialidade. Existir já não é postulado metafísico próprio do homem: é uma qualidade do que está quieto e do que se move; do grande e do pequeno; da pedra e do vegetal; do homem e do animal.

Metafisicamente falando, existe tudo quanto é. Recordando um dos nossos poetas, podemos dizer que: “Existe até o vento, quando despenteia as folhas das árvores.”

Na verdade, este conceito de existir leva-nos a mais ampla e universal noção de igualdade, comum ao mais e ao menos evolucionado. Assim, tudo é igual na natureza e na Criação. Não existe um só objetivo vivo ou inanimado que não tenha direito à igualdade existencial. Não esqueçamos que a filosofia contemporânea estabelece indubitavelmente a “ética do que é igual”, ou seja, a razão moral da suprema igualdade do Ser no seu ato de existir.

O fenômeno existencial não é privativo do homem, considerado até há pouco o “Rei da Criação”. Agora tudo existe e tem direito ao Ser e à evolução, de modo que o Ser, essencialmente considerado, está nos três reinos da natureza, admitindo-se que tudo possui Existencialidade com direito a ela.

O que a metafísica ocidental está descobrindo são os graus ontológicos de cada Ser e, portanto, de cada existir. A existencialidade de uma pedra possui graus de desenvolvimento, mas isso não diminui em nada, perante os graus superiores do vegetal. E o mesmo no animal e hominal. Toda esta gradação do Ser, embora evidente, mostra todavia a possibilidade de alcançar novas manifestações, mediante o processo do existir por direito de igualdade existencial que se desprende do conteúdo intrínseco do existente.

De acordo com esta posição ontológica os animais são seres com personalidade e com direitos. Merecem a consideração e respeito do homem, enquanto existam como seres ou “atos existenciais” no concerto geral das coisas. A dor dos animais é tão digna de respeito como a dor dos homens, pois que na sua fase orgânica e em relação a eles, notamos a mais absoluta semelhança, o mesmo sucedendo no aspecto psíquico. Quer dizer que a essência moral que há no ser humano se encontra em menor grau no animal. E se há diferenças entre o homem e o animal, é só de grau e não de essência.

O Ser universal é único e constitui uma entidade múltipla que resume o conteúdo de todos os seres. Nas dimensões do Ser está o Ser do homem e o Ser dos animais a manifestar-se em harmonia com seus graus de desenvolvimento ; mas o conteúdo essencial, que é o mesmo, iguala-os perante os fatos da existência, o que, ontològicamente falando, dá origem a uma ética geral que abarque tanto o homem como o animal no que respeita à presença e à ação de ambos nos cenários da vida.

A animalidade transformada em Existencialidade diz-nos que o reino animal, de acordo com a metafísica do filósofo espanhol Manuel González Soriano, sente com alguma consciência. Este passo do reino animal para a Existencialidade exige do homem uma nova compreensão do Ser irracional, se na verdade se preza de ser “Rei da Criação”. Se o talento hominal não consegue penetrar no mundo latente dos animais, é porque as suas faculdades cognoscitivas não se desenvolveram suficientemente para compreender que no Ser animal há grandes reservas volitivas e inteligentes chamadas a manifestar-se no decurso da evolução, o que indicaria que a capacidade da cultura hominal é limitada e circunscrita à sua própria raça e individualidade.

O passo do instinto à inteligência é o que melhor prova nos irracionais o que se denomina “desenvolvimento do germe potencial da substância única que constitui o universo, a criação, o efeito”. Deste modo, a Animalidade já não se apresenta ao homem como “condição” fatalmente inferior a si, visto que as modernas estimativas metafísicas o elevaram a um nível único e geral: o de Existencialidade, onde cabem todas as existências individuais, desde o homem ao ser mais simples e imperceptível.

A metafísica moderna, que já procurou com Max Scheler “relações” entre o hominal e o animal, está reunindo as categorias axiológicas nas investigações ontológicas baseadas na pesquisa do consciente e subconsciente, com as quais demonstrará que a física do Ser penetra na metafísica do indivíduo e que homem e animal são expressões do conceito cósmico de Einstein, segundo o qual “qualquer coisa se move” no universo e que a sua “teoria do campo unitário” é uma realidade que explica a essência mais profunda do homem assim como a mais imperceptível essência dos insetos.

3 – NECESSIDADE ÉTICA DA ZOOFILIA

Se Teilhard de Chardin levou o criacionismo do campo teológico ao terreno evolucionista, a mutação psíquica dos animais fica cientificamente demonstrada como realidade, como afirma o Dr. Gustave Geley (ver o seu livro “Do Inconsciente ao Consciente”). Com isto estamos autorizados a sus tentar os princípios fundamentais da nova filosofia da pessoa que revela duas grandes dimensões do Ser que se reftundem numa só: primeiro, a pessoa hominal ; segundo, a pessoa animal , ficando assim o cartesianismo totalmente superado.

Este novo passo da metafísica ocidental aproximar-se-á da metafísica do Oriente, que, embora pareça inconcebível, deu, há séculos, a sua mensagem humanitária acerca dos animais. Além disso, pede o ensino e prática de uma ética social inspirada na Zoofilia, quer dizer, no amor e afeto aos animais. É necessário, pois, que o homem estenda o amor do próximo ao reino animal, afastando-se de tantos processos cruéis e desumanos aplicados aos irracionais, sob pretexto de fins científicos.

Mais ainda: é necessário difundir um zoofilismo cristão, baseado na divina piedade de Francisco de Assis, Leão Tolstói, Ghandi e na misericórdia do dr. Albert Schweitzer, porque só o amor permitirá que a pessoa hominal se ligue fraternalmente à pessoa animal. Cremos que o plano da natureza se moverá para os seus verdadeiros objetivos guiado só pelo amor, quando o homem compreender a amizade e compaixão que deve prodigalizar hu-munamente e cristãmente aos animais.

Se os planos sociais, políticos e econômico do atual momento histórico fracassaram tão ostensivamente, esse efeito se deve à tremenda e desumana dor que o homem aflige aos animais. A psicologia das civilizações quer, porém, ignorar o drama existencial dos seres irracionais contribui para a desorganização da humanidade. O grito de dor dos animais não se perde no vácuo; pelo contrário, transforma-se em acerada flecha que se crava no coração dos povos, trazendo, como rea¬ção, males que assaltam o homem, como se a natureza exigisse justiça e piedade.

O grande estadista argentino, General Bartolomé Mitre, em suas prédicas zoófilas, mantidas até 1886, estabeleceu como ética universal, o pensamento seguinte: Fazer justiça até aos animais , querendo significar que a paz e o bem estar sociais não dependem só de resoluções a favor do homem, mas da justiça integral e não parcial, isto é, quando a justiça social tiver em conta a vida do homem e dos animais.

Portanto, o homem deve amar os irracionais — “criaturas mudas”, como lhes chamava a rainha Vitória da Inglaterra — porque deixaram de ser pelas mecânicas movidas por reflexos nervosos condicionados pelo meio. Quando o poeta encontra o abismo do olhar de um cão, um cavalo, um boi, etc. descobre nele duas asas fechadas que esperam abrir-se ao calor amoroso do homem. Nele está o segredo divino da Criação e o que significa o mistério da carne animal, tão parecida e próxima da carne humana. E quando o filósofo penetra nesses olhos descobre que o chamado problema da existência não se liga somente ao homem, mas que, por múltiplas razões físicas e metafísicas, se liga também aos animais, como seres existenciais que são.

Acreditamos que a sociedade humana entrará em períodos de paz e harmonia, quando os homens e os animais viverem estreitamente unidos a-través do amor e compaixão cristãos. O Papa Pio XII (2) referindo-se a este assunto disse:

— O mundo dos animais, assim como toda a Criação, é manifestação do poder de Deus, de sua bondade e sabedoria e, portanto, merece o respeito e consideração do homem.

— Benito Juárez, herói nacional do México, também afirmou que “a proteção aos animais faz parte da moral e da cultura dos povos civilizados”. Por seu turno, o General José de San Martin, herói da emancipação argentina e da América do Sul, ao escrever as “Máximas Morais” para sua filhinha Mercedes, disse que “humanizar o caráter é torná-lo sensível, mesmo para com os insetos que nos prejudicam”. Stern disse a uma mosca, abrindo-lhe a janela para a liberdade: “Anda, pobre animal! O mundo é tão grande para nós ambos!” E Abraham Lincoln, o grande presidente norte-americano, afirmou que “amando aos animais amamos a vida”.

Estes pensamentos e os de outros grandes homens indicam-nos que a Zoofilia devia ensinar-se nas escolas, como matéria fundamental, para completar o quadro moderno da educação. As crianças deviam sair das aulas com paixão pelos reinos da natureza, especialmente o reino animal. Quando os povos amarem os seus congêneres e tudo quanto existe, como Jesus ensinou, haverá garantia moral para as relações humanas. E quando o homem respeitar até a vida de um inseto, brotarão de todas as fontes da natureza as mais belas harmonias, ouvindo-se em tudo uma espécie de sinfonia wagneriana ou como se a Quinta Sinfonia de Beethoven se desprendesse em partículas de sons e divinas melodias do insondável universo.

A ética baseada na Zoofilia é uma necessidade social, artística e religiosa, pois se o homem não souber amar e proteger os animais, permanecerá oculto durante muito tempo esse mundo de paz e ternura sonhado por Orfeu, Apolônío de Tiana, Pitágoras e Francisco de Assis, na Antiguidade, e nos tempos modernos Axel Munthe, Einstein, Gandhi, Schweitzer, Sarmiento etc. Porque só o amor que sai do homem para chegar aos animais, vegetais e minerais, esse amor ardente e imenso como um oceano que canta perenemente, só esse divino amor devolverá à humanidade a sua verdadeira fisionomia espiritual da Beleza e do Bem.

* * *

(1) O sonho de Humberto Mariotti se realizou ainda em vida. Na assembléia da Unesco, em Bruxelas, no dia 27 de janeiro de 1978, foi proclamada a Declaração Universal dos Direitos dos Animais. (Nota do Pense )

(2) Em breve daremos a conhecer um trabalho intitulado “Necessidade de uma Encíclica Papal Sobre os Animais”, em que mostraremos a urgência do pronunciamento da Igreja acerca deste importante assunto.

Fonte: Revista Internacional de Espiritismo – Revista Mensal de Estudos Anímicos e Espíritas, dezembro de 1967, Ano XLIII – nº 11 – Matão-SP. Redator: Wallace V. Leal Rodrigues.

Humberto Mariotti (1905-1982), poeta, escritor, jornalista, conferencista e intelectual espírita argentino. Presidiu a Confederação Espírita Argentina em 1935/1937 e 1963/1967. Esteve, junto com Manuel S. Porteiro, no Congresso Espírita Internacional de Barcelona (1934). Foi também vice-presidente da Confederação Espírita Pan-Americana (Cepa) em duas gestões. Escreveu, dentre outras obras: Dialéctica y Metapsíquica; Parapsicologia y Materialismo Histórico; El Alma de los Animales a Luz de la Filosofia Espírita; En Torno al Pensamiento Filosofico de J. Herculano Pires; Victor Hugo, el Poeta del Más Allá.





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